Painel da EXPOSIBRAM faz panorama e diagnósticos da geociência no ensino brasileiro

No Brasil, há apenas 67 cursos em Ciências da Terra criados desde a década de 50. No encontro, foram defendidos mais investimentos do ensino básico ao superior e mais incentivos aos profissionais formados.

A importância do ensino de Geociências no Brasil foi destaque durante painel da Expo & Congresso Brasileiro de Mineração (EXPOSIBRAM 2023), nesta quarta-feira (30), em Belém (PA). As discussões apresentaram o panorama desde o ensino básico até a entrada de profissionais formados no mercado. A conversa foi moderada pela gerente de Assuntos Minerários do IBRAM, Aline Nunes, e contou com a participação de representantes de universidades federais, do Serviço Geológico do Brasil (SGB) e da Academia de Mineração.

No Brasil, uma das instituições que trabalham com a divulgação científica nos ensinos fundamental e médio é o Serviço Geológico do Brasil. Lançado em 2019, o Programa SGBeduca disponibiliza conteúdos facilitadores, práticos e sob demanda às escolas. Segundo Andrea Sander, pesquisadora e coordenadora da iniciativa, as geociências são fundamentais para a compreensão do planeta e seus fenômenos. Porém, os conteúdos ainda se mostram incompletos e fragmentados nos ensinos primários.

Um dos exemplos do SGBeduca apresentados no painel foi realizado em Tucumã (PA), onde foram atendidos cerca de 430 alunos em cinco escolas rurais. “A gente sempre começa pelas escolas, que são as nossas portas de entradas. Se atingirmos as crianças, também vamos chegar às famílias. A mineração, se for feita com responsabilidade, beneficia toda a sociedade. Não se chega a sustentabilidade nenhuma sem esse conhecimento”, defendeu Andrea.

No ensino superior há cursos voltados à área, mas também desafios. No país, desde a década de 50, apenas 67 cursos de Ciência da Terra foram implantados, com cerca de 12 mil profissionais atuando em 2023. Os dados foram apresentados pelo professor de Geologia da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), Leonardo Brasil.

O pesquisador reforçou que as geociências no Brasil ainda são questões de soberania nacional e interesse do Estado. “Existe uma carência muito grande de cursos voltados às geociências, comparado a outras áreas. Os egressos são rapidamente absorvidos pelo mercado. Se estamos pensando no crescimento almejado pelos governos, vamos demandar muita mão de obra. Não temos como suprir essa demanda com a quantidade de cursos ofertados hoje em dia”, destacou.

O diretor adjunto do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Pará (UFPA), Cristiano Mendel Martins, enfatizou que na instituição há quatro cursos de graduação e sete de pós-graduação, formando, todos os anos, profissionais que têm atuado, principalmente, na Amazônia. “Vemos brilho nos olhos dos alunos e técnicos envolvidos, mas há um grande caminho ainda, pois nos deparamos com muitos desafios. No Brasil, falar de ensino é complexo porque nós ainda temos dívidas a pagar e carências a suprir, sobretudo de investimentos em pesquisas e em conhecimento. A universidade tem um papel tríplice de pesquisa, ensino e extensão, com objetivo final de atingir compromissos”, garantiu.

As discussões foram ampliadas pela CEO da Academia de Mineração, Marcela Tainã, que mostrou como o mercado se comporta quanto à educação geocientífica. Para ela, há tecnologias e necessidades, mas em muitos setores minerários não há profissionais que consigam acompanhar os avanços. “O cerne sempre vai ser a educação. Nós precisamos discutir o ensino nas variadas formas, incluindo o ensino técnico, que é uma construção muito ampla e não podemos enxergar dentro de uma caixinha”, disse.

Os desafios na formação de profissionais para atuar como professores no atendimento às demandas dos ensinos fundamental, médio, técnico e superior foram levantados pela mediadora Aline Nunes. Os painelistas também defenderam os incentivos à área e formas de atingir mais crianças, adolescentes e jovens aos estudos de geociências.

Sobre a EXPOSIBRAM – Composta de multiatividades em um único período e local, a Exposibram é realizada anualmente e conta com a participação das principais entidades relacionadas ao setor mineral. A feira internacional é a maior vitrine para geração de negócios. Já o congresso debate cenários e revela as tendências do segmento.