Talk show: mineração poderá levar Brasil a liderar oferta de minerais voltados à transição energética

Executivos da Vale, Rio Tinto, Sigma, ICMM e secretária-adjunta de Mineração do MME debatem desafios da mineração no primeiro dia da EXPOSIBRAM 2023.

A mineração é absolutamente estratégica para o Brasil impulsionar a economia verde e se tornar líder da oferta de minerais cruciais para a transição energética no mundo. Este é o consenso do talk show que o Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) promoveu no primeiro dia da EXPOSIBRAM 2023, em Belém (PA). O tema das discussões foram os desafios do setor mineral.

Segundo o diretor-presidente do IBRAM, Raul Jungmann, para este cenário se concretizar o Brasil precisa superar desafios, como: estruturar uma política nacional para expandir a produção de minerais estratégicos para a transição a uma economia de baixo carbono; ampliar o conhecimento geológico do território; evitar o aumento de custos que prejudicam a competitividade do setor, a exemplo da criação de taxas por estados e municípios; estabelecer linhas de financiamento adequadas às características do setor; ampliar a captação de recursos pelas mineradoras no mercado de capitais.

“O setor financeiro aporta R$ 2,1 trilhões em atividades produtivas no país, porém, apenas 0,9% desse total é direcionado à mineração, um dos três principais setores econômicos do Brasil. É uma discrepância que precisa ser superada”, disse Jugmann.

Participaram do debate Ana Paula Bittencourt secretária-adjunta da Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, Eduardo Bartolomeo, presidente da Vale, Rohitesh Dhawan, CEO do ICMM, Ana Cabral-Gardner, CEO da Sigma Lithium, e Jamile Cruz, Country Manager da Rio Tinto. O encontro foi mediado por Raul Jungmann.

Eduardo Bartolomeo: “O Brasil vai ser a maior potência de energia limpa do mundo”.

Eduardo Bartolomeo disse que o mundo passará por uma substituição “muito grande de energia. As mineradoras serão as novas majors. Sem minérios na base não vai acontecer nada. Seja minério de ferro, cobre, níquel, lítio. Mas isso já é fato”, afirmou.

No Brasil, disse, o grande desafio a superar é o preço da energia, que precisa ser mais competitivo para o setor empresarial. O preço do gás natural, disse, é pouco competitivo, ou seja, muito elevado no Brasil em comparação com países como Arábia Saudita e Omã. “Tem que haver uma substituição, uma transição do gás natural para o hidrogênio. Tenho certeza que o Brasil vai ser a maior potência de energia limpa do mundo”, disse o presidente da Vale.

A grande discussão, em sua opinião, é sobre energia. A Vale, por exemplo, consome 500 milhões de litros de diesel nas ferrovias e outros 500 milhões de litros são utilizados nos caminhões. E deverá substituir esse enorme volume por hidrogênio e etanol. Em termos de energia limpa, disse Bartolomeo, o Brasil “está andando bem em todos os lados. A bola está na marca do pênalti. Cabe à gente, como sociedade, se organizar, criar condições para o hidrogênio alavancar, aproveitar o gás natural, ou seja, está na nossa mão (ampliar as fontes de energia limpa)”, disse.

Para Ana Cabral, da Sigma, a energia limpa é o instrumento para o Brasil aproveitar a oportunidade “única de elevar a qualidade de vida do povo, eliminar a miséria do país, de as pessoas pararem de passar fome, de permitir às crianças ir à escola, é algo único. Fazemos tudo (a produção) verde. Ninguém faz isso ‘verde’. É um conceito de produção cujo momento chegou”.

Em sua visão, há um momento de demanda crescente pela adoção de carros elétricos no hemisfério norte porque naquela região os países não têm biocombustível no volume “que o Brasil tem, mas precisam bater metas do Acordo de Paris (com a eletrificação dos meios de transporte). Então, o Brasil pode virar a grande máquina de suprimentos dos insumos para viabilizar essa descarbonização do hemisfério norte” e gerar renda para aplicar na melhoria de qualidade de vida da população.

Para a executiva, a mineração do Brasil precisa mudar o foco de seu planejamento. Tem que mirar nos interesses da indústria da tecnologia, hoje sua principal cliente, segundo sua avaliação. “O grande ponto é que o ‘tempo regulatório’ tem que ‘sair do tempo geológico’. Antes, o cliente era a indústria de base, mais letárgica, mais lenta. Temos que ir para o ‘tempo tecnológico’ porque o nosso cliente é a indústria de tecnologia. Quem fabrica baterias de carros são essas indústrias. Elas evoluem, inovam, usam novos materiais de modo muito rápido e temos que nos adequar a essas mudanças”, disse.

Novas formas de operar a mineração de olho na sustentabilidade

Jamile Cruz falou sobre o caráter sustentável e responsável da moderna mineração. Para ela, a mineração sempre foi inovadora e tem muitas mudanças por vir. “Agora, o sentimento é muito real, de necessidade de mudança, de necessidade de renovação, de necessidade de fazer algo diferente. A Rio Tinto tem novo propósito de criar novas formas, de prover materiais que o mundo precisa e estamos exatamente nesta pegada de repensar os modos como a gente opera(…) através da inovação, da inclusão, de um pensamento renovado de como a gente lida com as comunidades(…)um processo de olhar para dentro, olhar para fora, e entender a nossa participação na sociedade, que é muito além de ser gerador de emprego, muito além de ser produtor de minério de ferro, de alumínio”.

Na mesma linha de Jamile Cruz, Rohitesh Dhawan, do ICMM, disse que a mineração precisa estabelecer uma relação com a sociedade priorizando atender os interesses das pessoas em primeiro lugar. A mineração no Brasil, avaliou, apresenta vantagens ao ter abundância de minérios estratégicos para a transição energética; exerce a atividade com sustentabilidade e tem energia verde à disposição; e mantém relações diplomáticas e comerciais com todo o mundo, o que favorece a evolução de sua economia.

Ana Paula, do MME, abordou desafios do setor mineral relacionados ao licenciamento ambiental e ao financiamento dos projetos do setor. Ela disse que o MME age junto ao Senado Federal para que a mineração seja inserida no projeto de lei sobre o novo licenciamento ambiental. E o ministério também avalia novos mecanismos de financiamento para a mineração.

A EXPOSIBRAM 2023 acontece em Belém até 31 de agosto.